Um Rio de Janeiro de terrenos baldios e matagais, sem praias. São Paulo cortada por um rio Tietê que pega fogo. Uma Brasília em que é preciso passaporte para ingressar. Uma vizinhança no Recife rodeada por fantasmas. As cidades dos filmes Mate-me por favor (Anita Rocha da Silveira, 2015), Riocorrente (Paulo Sacramento, 2013), Branco sai, preto fica (Adirley Queirós, 2014) e O som ao redor (Kleber Mendonça Filho, 2012) são as mesmas cidades que estamos acostumados a ver na maioria das telas? E as cidades que estamos acostumados a ver, elas são as mesmas que vivenciamos?

Em Banco imobiliário (2016), o diretor Miguel Antunes Ramos pergunta a um dos entrevistados: “O que é a cidade?”. O homem, que trabalha na venda de imóveis recém-construídos, se atrapalha na resposta e termina devolvendo a indagação à equipe, que fica em silêncio. Em outro longa que faz parte da programação, uma pergunta sobre a constituição da cidade se dá já no seu título: A cidade é uma só?. O filme de Adirley Queirós, de 2012, se apropria ao mesmo tempo que questiona o slogan da Campanha de Erradicação das Invasões, que nos anos 1970 pretendia “deslocar” os habitantes mais pobres de Brasília para regiões afastadas do Plano Piloto.

A mostra UM LUGAR AO SOL busca reunir esses e outros filmes brasileiros recentes que tomam o espaço urbano como elemento privilegiado de suas inquietações e tentam pensar sobre essas perguntas. Nessas produções, a cidade constitui uma potente linha de força para perceber a vida social e seus conflitos e não é apenas cenário, mas elemento fundamental e estruturante. Tais filmes chamam a atenção, ainda, por não apenas representar espaços urbanos já existentes, mas enfatizar como, ao movimentar-se através do espaço real, o cinema acaba criando um novo espaço, e como é possível, assim, ocupar, intervir, recompor ou forjar as cidades.

Realizada com apoio do ProAC, parceria do Centro Cultural São Paulo e da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, produção da Buena Onda e curadoria da pesquisadora Natalia Christofoletti Barrenha, a programação terá lugar no CCSP de 07 a 12 de agosto de 2018. Além da exibição de 23 filmes (15 longas e 8 curtas-metragens), serão realizadas diversas atividades especiais:

A corroteirista Inês Figueiró e a atriz Carmen Silva, de Era o hotel Cambridge, e os diretores Miguel Antunes Ramos (Banco imobiliário), Lincoln Péricles (Aluguel: o filme) e Allan Ribeiro (Esse amor que nos consome) estarão presentes para falar com o público após a exibição de seus filmes.

No dia 11 de agosto, às 17h30, haverá uma mesa-redonda com as pesquisadoras da temática da cidade no cinema: Cecília Mello, Marília-Marie Goulart e Regiane Ishii, que conversarão a respeito dos filmes da mostra sob diferentes perspectivas. Ainda no dia 11, às 19h30, os filmes Fotograma e Obra serão exibidos com legenda descritiva, também denominada LSE – legenda para surdos e ensurdecidos.

Na semana seguinte, nos dias 14, 15 e 16 de agosto, das 16h00 às 19h00, na Sala de Debates Caio Graco, será realizada a oficina Por um lugar de subjetividade da imagem na cidade, ministrada por Paula Nogueira Ramos e com emissão de certificado.

Todas atividades são gratuitas.